

Detentora de vários títulos nacionais e internacionais, Maria Luis Gameiro é a primeira mulher portuguesa em 16 anos a participar no Rally Dakar e a primeira mulher portuguesa a correr na Arábia Saudita.
Ilustre sucessora de Elisabete Jacinto, de quem herdou o navegador José Marques, Maria Luís aventura-se pela primeira vez naquela que é considerada a prova mais difícil do mundo e, logo na edição que já foi descrita como a mais dura de sempre.
A Sekreta Magazine teve a oportunidade de estar alguns minutos a conversar com ambos os protagonistas desta aventura que, a partir de hoje, é a nossa aventura no Dakar. Sim, nossa! Pois agora, cada português vai sofrer pelo êxito deste dueto, enquanto eles vão sofrer nos desertos africanos.
Sekreta Magazine: Maria Luís, como é ser natural de Cascais e representante do concelho, no maior desafio do desporto motorizado mundial?
Maria Luís Gameiro: Antes de mais, é um grande desafio. Cascais é uma vila lindíssima, a nossa casa, e levá-la ate tão longe é uma grande responsabilidade, mas, sobretudo, um grande orgulho.
SM: É a primeira mulher portuguesa a ir à Arabia Saudita?
MLG: Sou a primeira mulher portuguesa a ir à Arábia Saudita! A Elisabete Jacinto, no último Dakar que fez, foi na América do Sul, pelo que agora vou ser a primeira representante feminina portuguesa e cascalense.
SM: Como está a sentir essa responsabilidade?
MLG: Muito, muito ansiosa! É uma área que eu não domino, e a primeira vez que faço um Dakar. Tudo aquilo vai ser uma grande surpresa para mim, mais ainda sendo num país com uma cultura tão diferente da nossa, mas sinto-me muito feliz com esta oportunidade.
SM: Como está a ser feita a sua preparação física, psíquica e técnica?
MLG: Cascais é uma vila onde se consegue fazer muito desporto, consegue-se ter uma vida de muita qualidade ao ar livre. Em Cascais é possível fazer toda a minha preparação física e psicológica para este desafio que é um desafio muito, muito grande. A minha preparação técnica não é possível ser feita em Cascais, pois não há pistas onde possa treinar, pelo que, essa preparação tenho de a fazer no Alentejo ou no estrangeiro. Na próxima semana vou para a Arábia Saudita para tomar conhecimento do local onde a prova se vai desenrolar e, aí treinar toda a parte técnica e mecânica, o que é muito importante. O treino físico, sobretudo, a parte de desenvolvimento da força, faço-a “indoor”. Sempre que posso, aproveito para correr pelas nossas marginais. Cascais traz-me muita inspiração e psicologicamente induz-me muita tranquilidade. Psicologicamente, também tenho apoio na minha preparação, pois vai ser uma corrida muito exigente a esse nível.

SM: Como surge o carro cor-de-rosa?
MLG: Começou por ser uma estratégia publicitaria. Um dos nossos sponsors, a Speed Rent que é uma empresa de aluguer de maquinaria, aqui do concelho de Cascais, tem como cor base o magenta. Na altura, pediram-me para que o carro fosse daquela cor. Confesso que não gostei, era muito cliché, uma senhora a correr com um carro cor-de-rosa, mas aceitei o desafio e, a verdade, é que o público, as mulheres, as crianças e as famílias, começaram a dedicar um carinho e atenção especial com a cor, começaram a identificar-se e a identificar-me com a cor. Rapidamente, passou a ser a cor da Maria e, sempre que veem um carro cor-de-rosa, é a Maria que está a correr!
Por outro lado, algumas pessoas começaram a fazer a ligação à luta contra a doença oncológica, pelo que, neste Dakar, vai ser doado um euro por cada Km em sector seletivo que eu conseguir fazer. Se tudo correr bem, podemos ultrapassar os 5000€.
SM: Sente-se uma inspiração para que as mulheres apostem mais nos seus sonhos e para que os seus companheiros (ou companheiras) as apoiem?
MLG: A esse nível, eu sou uma sortuda! Consegui perseguir os meus sonhos e o meu marido e companheiro, apoia-me muito nestes meus sonhos… (mais tarde, Luís Gameiro confidenciou à Sekreta Magazine que, terminou a sua carreira no todo terreno para se poder dedicar em pleno ao projeto da Maria Luís). Não sei se sou uma inspiração, ainda sou pouco conhecida para isso, mas gostava muito que as pessoas vissem em mim alguém muito simples que conseguiu chegar a este patamar. Se sonharmos e lutarmos bastante é possível. Nós mulheres, temos toda a capacidade do mundo para fazermos o que quisermos. Felizmente, vivemos numa democracia e num país que o permite, pelo que espero que todas as senhoras que me vejam como inspiração, o façam com carinho porque eu olho para elas da mesma forma.
José Marques – Copiloto/navegador

SM: Como se sente ao ser o navegador escolhido para acompanhar as nossas mais ilustres representantes femininas?
JM: Muito confortável! A Maria Luís é a quarta piloto que eu acompanho. A primeira foi a Alexandra Gameiro, depois a Madalena Antas, a Elizabete Jacinto e a Maria é a quarta senhora com quem eu faço navegação. Dentro do carro, consigo estabelecer uma relação mais próxima. As senhoras têm uma perceção diferente, uma sensibilidade maior quanto às relações humanas durante a prova e em toda a preparação. Nós homens, somos muito brutos; As senhoras têm uma outra sensibilidade quando estamos com maiores dificuldades e, isso, ajuda muito no nosso trabalho.
SM: Depois de tantos Dakar, quais são as expectativas para este ano?
JM: Comecei o Dakar em África, depois fiz na Argentina-Chile e agora é o quarto Dakar que faço na Arábia Saudita. Continuo a dizer que a Arábia Saudita é um país fantástico para fazer corridas no deserto, entre elas, o Dakar. Para mim, faz falta aquela mística da viagem, atravessar fronteiras, que tinha o Dakar que tive o privilégio de fazer. Mas é um Dakar fabuloso, com paisagens excecionais.
SM: Como foi a transição de um camião, para um buggy?
JM: É muito diferente. O camião é muito violento, em termos físicos. A navegação é mais exigente em termos de percurso, este carro passa em todo o lado, nunca fica atascado. Já na leitura das dunas, no camião é mais fácil, pois, temos um ponto de vista mais elevado e conseguimos perceber mais rápido se há concorrentes do outro lado e, dessa forma, evitá-los. Com este carro, essa perceção não existe, mas como o carro é muito reativo também os conseguimos evitar. No entanto, é tudo muito mais em cima da hora… camião, para mim, é mais fácil de navegar!
Um excelente Dakar para toda a equipa! A Sekreta Magazine deseja a maior sorte para mais um projeto de cascalenses pelo mundo.

JoaoLamares/Sekreta Magazine