Álvaro Marinho nasceu a 15 de março de 1976 e é um dos mais consagrados velejadores portugueses. Representou Portugal em quatro edições consecutivas dos Jogos Olímpicos (2000, 2004, 2008 e 2012) na classe 470, sempre em dupla com Miguel Nunes, tendo alcançado o 5º lugar em Sydney 2000, o melhor resultado da sua carreira olímpica.
Marinho é reconhecido pelo seu profundo conhecimento das águas de Cascais, onde desenvolveu toda a sua carreira profissional e onde se tornou uma referência para várias gerações de velejadores.
Na Alkedo, Marinho assume o papel de estratega, sendo peça-chave para a adaptação da equipa às condições locais e para a leitura tática das regatas em Cascais. A sua experiência e ligação à comunidade local fazem dele um verdadeiro “herói da casa”, motivando a equipa e atraindo o apoio dos adeptos portugueses.
Sekreta – Álvaro, depois de tanta experiência em Cascais, depois de ter navegado tanto em Cascais, correr com este barco e ganhar, como é que que é…?
Alvaro Marinho – Para mim é um sonho, para dizer a verdade. Já há muitos anos que trabalhava com estes barcos, quando vinham para Cascais, justamente por conhecer bem a zona, mas nunca tinha tido a oportunidade de navegar nos barcos, fazendo parte de uma equipa, em que tivesse um impacto direto nas decisões. Nesse sentido é a primeira vez. Conhecia esta equipe italiana de outra classe e eles, quando formaram a equipa para participar na 52 Super Series, convidaram-me.
Obviamente que fiquei super orgulhoso e muito motivado, sobretudo sabendo que o Clube Náutico de Cascais ia organizar o Campeonato do Mundo da classe.
A vitória hoje é um sinal de que a equipa tem qualidade, já o demonstramos em Baiona; temos estado acima das expectativas de toda a gente, diria até das nossas próprias expectativas. Na verdade não é normal um barco entrar na classe e, no primeiro ano, ou em duas provas, fazer pódio e ganhar uma regata do Campeonato Mundial. É motivo de muito orgulho.
Sekreta – Tem muita experiência e conhece muito bem o Mar de Cascais, mas não nestas embarcações. Em contrapartida, a maioria dos concorrentes presentes, já navegou aqui em Cascais com estes barcos, várias vezes.
Qual é a vantagem que o Álvaro trás para uma equipa? De que forma o seu maior conhecimento da zona e o menor conhecimento do barco, supera o melhor conhecimento do barco e menor conhecimento da zona?
Alvaro Marinho – É uma pergunta muito boa! Efetivamente, de classe para classe, embora condições sejam as mesmas a forma de se fazer o “aproach” à regata é sempre diferente. A verdade é que nos dias típicos de cascais nós sabemos, principalmente navegando ali na guia, o quanto o lado direito é favorável, geograficamente, historicamente tem sido sempre assim. Em dias como hoje que não é um dia típico, embora sejam mais bonitos de navegar porque as condições são incríveis, não é só largar e ir para a direita! Há alguns truques, sendo que é aí que o meu melhor conhecimento da zona traz vantagem.
No caso da segunda regata, em que toda a gente cambou para fazer o que tinham feito na primeira regata, nós optamos por não o fazer, precisamente porque quando chegámos à boia da bolina havia qualquer coisa diferente. O grande ganho foi na segunda perna. Nós rondamos em sexto, os cinco primeiros barcos optaram por cambar e ir mais junto a terra, enquanto nós não. Tinha conversado com a equipa e não parecia haver tanta pressão do vento como na primeira regata, essa opção não era tão favorável. Então, quando acabámos por içar o balão e estender um bocadinho mais pro lado do mar, percebemos que a pressão era boa; visualmente os ganhos estavam a ser grandes, pelo que continuamos com a nossa estratégia que acabou por dar frutos.

Sekreta – Quais são as emoções que sente depois de ter ganho em Cascais?
Alvaro Marinho – Eu estou com “´pele de galinha” (na realidade estávamos os dois)! Navegar em Cascas é único, não só pelas condições do mar (muito gente que vem aqui navegar pela primeira vez, me diz que este é o melhor local do mundo para navegar à vela) mas pelas condições criadas pelo Clube Naval de Cascais, pela Câmara Municipal de Cascais, pelos “Sponsors”, conseguem fazer uma organização que leva muitos destes atletas a escolher a Vila de Cascais para comprar casa, porque isto, efetivamente, é um paraíso.
Sekreta – Que palavras motivacionais tem para os jovens cascalenses, não só os velejadores mas para todos desportistas?
Alvaro Marinho – Acima de tudo aplicarem-se naquilo que sonham fazer!
Na caso da vela que é o desporto que eu escolhi, pode trazer muitos frutos para quem o pratica profissionalmente, mas mesmo numa fase mais inicial há muitas lições, muitos valores que podem levar para sua vida.
Gostava de os incentivar a dedicarem-se bastante aos seus sonhos. Obviamente para chegar ao nível que muitos velejadores do clube Naval de Casais já chegaram, é preciso muito trabalho muita dedicação muita disciplina e muito sacrifício. É preciso estar sempre disponível!
Eu estou entre seis e oito meses do ano fora, longe da minha família, da minha mulher e dos meus filhos. Isso só é possível com forte apoio da parte deles todos, muita dedicação e muito espírito de sacrifício de todos os envolvidos. Isto leva tempo construir. Na verdade, não sou só eu, não é só o Álvaro. O Álvaro é a face visível de algo muito maior que me fez chegar aqui.